Tribunal negou mesmo proteção à juíza ameaçada, a TV Record tomou conhecimento e omitiu a informação.

29-08-2011 18:32

osé Augusto Garcia de Sousa

Já fui cunhado da juíza assassinada Patrícia Acioli (era casado com uma irmã dela), uma juíza impressionantemente generosa e idealista. Como todos devem ter acompanhado pelo noticiário, desde que aconteceu o hediondo assassinato, a cúpula do Tribunal de Justiça/RJ tem insistido na versão de que a própria Patrícia abrira mão da segurança.

Trata-se de versão no mínimo inverossímil. Há alguns meses, as ameaças de morte contra Patrícia foram matéria de primeira página de uma edição dominical de O Globo, e nela Patrícia não quis mostrar o seu rosto, aparecendo apenas uma figura sombreada. É claro que se ela não estivesse seriamente preocupada com a sua segurança (e a de sua família), não teria escondido o rosto.

Mas apesar do discurso defensivo e sem transparência do TJ/RJ, a verdade – que a família conhecia perfeitamente - foi aparecendo ao longo da semana, por meio de vários documentos. Na sexta-feira à noite, descobriu-se mais um documento até então desconhecido, qual seja, a comprovação do andamento de um processo administrativo referente à segurança de Patrícia (nº 2008.231986), em que consta a seguinte decisão, datada de 17/02/09:  “De ordem do Exmo. Des. Luiz Zveiter, Presidente do TJ/RJ, e ante ao que consta da informação de fls. 91, determino o arquivamento do presente feito, por não se vislumbrar a necessidade de adoção de qualquer medida extraordinária de segurança. Oficie-se à magistrada que subscreve fls. 02 informando o teor da presente decisão, remetendo-se cópia de fls. 90 e 91.”

O que consta integralmente nesse processo administrativo? Desconheço. Mas qual a razão de o TJ/RJ ter omitido por completo a existência do processo? Pior. No sábado (20/08), como pessoa próxima a Patrícia, fui chamado para dar uma entrevista ao Jornal da Record, exibido às 18:30 horas. Na entrevista, dada cerca das 16 horas na Praia de Icaraí (defronte a uma cruz que lembra o assassinato de Patrícia), com várias testemunhas, critiquei a postura do TJ/RJ e mencionei o documento que segue anexo.

Para minha surpresa, pouco antes do horário marcado para a entrevista ir ao ar, recebi um telefonema bastante constrangido da jornalista a quem prestei a entrevista, dizendo que, por ordem da direção nacional da emissora, a entrevista não seria exibida.

Um Poder que tem por missão julgar há de saber também julgar os seus próprios atos e reconhecer os seus erros. Um Poder Judiciário sem autocrítica e com medo da verdade é algo extremamente preocupante para toda a população.

Em homenagem à memória de Patrícia, peço que retransmitam esta mensagem ao maior número possível de destinatários.

 

fonte:https://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=22414